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OPINIÃO: A ideologia da escassez

Giorgio Forgiarini

Na última semana, a falta de recursos obrigou a Polícia Federal a suspender a expedição de passaportes. Pelo mesmo motivo, também na última semana, a força-tarefa da Polícia Federal que atuava na Operação Lava Jato foi desmantelada, assim como inúmeras outras operações de grande importância também foram descontinuadas. 

 Do lado da Polícia Rodoviária Federal, a falta de recursos fez com que fosse suspensa a expedição de multas de trânsito e com que os radares e lombadas eletrônicas instalados em rodovias federais fossem retirados de uso. 

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Ainda neste ano de 2017, a falta de recursos para campanhas de conscientização contribuiu para que no Brasil eclodisse uma epidemia nacional de sífilis como há muito não se via. Aliás, o baixo investimento em saneamento básico e em ações de prevenção nos últimos anos contribuíram enormemente para os vergonhosos números de dengue, chikungunya e zika vírus por todo o país.

Falando de maneira mais abstrata, porém igualmente verdadeira, a falta de investimentos em educação contribui diretamente para a baixa produtividade da população e para a alta demanda em serviços públicos básicos. Explico: uma população pouco desenvolvida intelectualmente, além de produzir menos riqueza, é mais suscetível à gravidez precoce, à alcoolemia, à drogadição, além de sofrer mais com doenças tidas como facilmente evitáveis, como a já mencionada sífilis, tuberculose e verminoses.

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Aliás, o baixo investimento em educação também é causa direta da superlotação do sistema carcerário, que, por sua vez, é causa da reincidência criminosa; que, por sua vez, é causa dos altos índices de violência urbana; que, por sua vez, é causa de altos custos para os sistemas de saúde e previdência social; que, por sua vez, é causa do baixo investimento na educação, e por aí vai.

Eis a ideologia da escassez em todo seu esplendor: a ideia simplista de que a solução para todos os problemas do mundo é a contenção de gastos. Forma-se, então, um círculo vicioso, em que a mesquinharia se converte em miséria, para cuja solução se adota ainda mais mesquinharia. 

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Não há para esses mesquinhos nenhuma preocupação com eficiência. Eficiência significa obter os melhores resultados a partir dos menores custos. Quem defende cortar custos sem se preocupar com resultados, não pode ser tido como eficiente. É no máximo um ideólogo da escassez. Um mesquinho, para ser mais claro.

Conter gastos é necessário, mas exige ciência, planejamento e parcimônia. Não adianta fazer escarcéu para dizer que vai extinguir 10 secretarias, economizar pífios 0,07% do orçamento e depois criar 28 cargos em comissão para fazer o que servidores concursados deveriam estar fazendo. Não adianta extinguir uma Fundação Pública que custava R$ 20 milhões ao ano e, depois, gastar o dobro contratando empresas privadas para fazer o mesmo que aquela fazia.

Economia burra não é economia. Rompamos com essa ideologia tacanha, senão nada, nunca, há de dar certo.

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